Alívio da Dor
- essência
- 14 de jan. de 2023
- 5 min de leitura
Atualizado: 17 de jan. de 2023
Benefícios da Massagem
O sistema sensorial é um conjunto de órgãos dotados de células recetoras, como a pele, os olhos, as mucosas, músculos e tecido conjuntivo, em que os estímulos, que podem ser mecânicos (impacto, pressão, fricção...), químicos (inflamação...), ou térmicos (queimaduras...), são transmitidos na forma de impulsos eléctricos até o sistema nervoso central. Por sua vez, o sistema nervoso central processa as informações, traduzindo-as em sensações e gerando respostas.

O Sistema Nervoso Central e a Pele têm uma origem embrionária comum – ambos derivam da Ectoderme – e é por isso que a pele reflecte os nossos sentimentos, físicos e psicológicos, por exemplo, em situações de stress coramos e em situações de pânico ficamos pálidos.
A pele é o maior órgão do corpo humano e possui milhares de células receptoras, sendo que é através dela que percebemos sensações como calor e dor. Assim, quando estimulamos a pele, estamos a transmitir informação dos milhares de receptores que aí se encontram, ao Sistema Nervoso Central.
Das várias células receptoras, encontram-se os corpúsculos de Pacini, que é um mecanorreceptor que capta estímulos mecânicos, como movimentos ou alterações na pressão, e os transmite ao sistema nervoso central.
A massagem, além de melhorar a circulação, relaxar a musculatura e produzir sensação de conforto, é um potente estímulo mecânico particularmente eficaz para o processo da dor.
Os resultados encontrados nos estudos sobre a relação da massagem e a diminuição da dor vêm demonstrar que existe uma relação de causa-efeito, sendo apresentadas algumas hipóteses que são aceites como possíveis para explicar esses resultados:
- A teoria da "comporta" ou "portão"
A aplicação da massagem permite um efeito de analgesia, pois vai estimular os receptores sensoriais da pele, agindo directamente no mecanismo de controle do "portão da dor".
Esta teoria indica que a informação da dor pode ser menor quando temos dois estímulos em competição (pressão, calor ou frio) a tentar dar informações o cérebro. Como as fibras de dor são mais curtas e menos mielinizadas que as fibras de pressão, por exemplo, a informação da dor demora mais tempo a chegar ao cérebro. Assim, a informação das fibras da pressão “fecham o portão” à informação de dor, mesmo antes de este lá ter chegado, diminuindo assim as transmissões de dor, aliviando parcialmente o desconforto e provocando um efeito analgésico de curta duração.
- Modificação dos elementos químicos
Alguns estudos sugerem que a aplicação da massagem estimula a produção e libertação de alguns elementos químicos como:
Oxitocina – Também conhecida como a"Hormona do amor", é responsável por sentimentos de empatia e compromisso, pela ligação social e formação de vínculos afectivos. Atua como uma espécie de calmante e, modulando processos neuronais, tem um efeito analgésico, reduzindo a sensibilidade à dor e aumentando a sua tolerância. Pode levar à diminuição dos níveis de cortisol e contribui para reduzir a tensão arterial, promovendo assim uma diminuição do stress e ansiedade e aumento de relaxamento.
Endorfinas – Também conhecidas como “hormonas da felicidade”, as endorfinas são responsáveis por bloquear a dor e controlar as emoções. Além de melhorar o humor, níveis mais elevados deste neurotransmissor levam a sensações de euforia, modulação do apetite, libertação das hormonas sexuais, aumento da resposta imunitária e agem como um analgésico e opióide natural, diminuindo a nossa percepção da dor.
Serotonina – Neurotransmissor que modula o comportamento emocional, sensação de bem-estar, sono, apetite, funções cognitivas… e está relacionado com a interrupção da informação do estímulo doloroso ao cérebro, uma vez que a diminuição da sensação de dor está relacionada com a diminuição da substância P – Baixos níveis de serotonina podem causar níveis elevados de substâncias P e vice versa.
Dopamina – Neurotransmissor importante na regulação do entusiasmo, prazer, motivação e níveis de energia, influenciando a actividade motora, sendo que está relacionada com a doença de Parkinson (doentes apresentam baixos níveis de dopamina). É uma substância produzida em situações que o corpo identifica como agradáveis, proporcionando uma sensação de bem-estar, capacidade de foco e atenção, o planeamento e tomada de decisão, o humor e a motivação. Em défice podemos sentir-nos desmotivados, tristes, podendo levar a estados depressivos.
Sensações cutâneas desagradáveis estimulam e activam o sistema descendendente da dor, diminuindo a sua intensidade. A massagem vigorosa e pontos gatilho (pressão na zona, fáscias, músculos ou tendões que estão com nódulos e hiper-irritabilidade) podem reforçar um desconforto natural, mas permite a interrupção mecânica das terminações nervosas sensitivas, diminuindo a dor e irritabilidade e permite que haja uma maior libertação de endorfinas e um controle da dor de duração mais longa.
Tendo em conta o resultado de alguns estudos, parece existir uma relação directa entre o défice de neurotransmissão dopaminérgica e a dor crónica, e o excesso de neurotransmissão dopaminérgica e a hiposensibilidade à dor. Uma vez que a massagem activa a libertação de dopamina, doentes com dor crónica podem beneficiar de uma redução da percepção da dor.
Após a massagem, há também um aumento dos níveis de serotonina, promovendo assim uma sensação de calma e bem-estar, facilitando também o sono mais longo e profundo. O aumento dos níveis de serotonina está relacionado com a interrupção da informação do estímulo doloroso ao cérebro, uma vez que a diminuição da sensação de dor está relacionada com a diminuição da substância P. . Baixos níveis de serotonina podem causar níveis elevados de substâncias P e vice versa.
Perante uma situação de privação de sono profundo, por exemplo, os níveis de substância P aumentam e os da somatostatina diminuem, fazendo com que a pessoa experiencie dor.
Num estudo, foi verificado que o grupo que recebeu massagem apresentou níveis mais baixos de substância P e obteve maiores períodos em sono profundo.
Assim, a massagem aumenta os níveis de serotonina, promove o sono profundo e mais calmo, resultando na diminuição da substância P e, consequentemente, na diminuição da sensação de dor.
O medo, a depressão e a alteração do sono têm sido relatados, em resultados de estudos, como factores que aumentam a dor e o sofrimento de pacientes.
Desta forma, percebemos que a massagem pode promover diminuição da dor e produzir sentimentos de bem-estar, desencadeado por mecanismos biológicos e através da modificação dos elementos químicos.
Cuide da sua essência!
Venha experimentar uma das nossas massagens!
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REF. BIBLIOGRÁFICAS
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ARTIGO DE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Controlo da dor em pacientes oncológicos
Ana Isabel Coelho Rosa Cardoso Mestrado Integrado em Medicina – 6.º ano Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar Universidade do Porto Centro Hospitalar do Porto 2013/2014
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